Resenha crítica do filme “Minha vida em cor de rosa”: um filme feito de olhares que contam histórias.
A questão de gênero e transexualidade se tornou um dos
assuntos mais abordados e comentados dos últimos anos na sociedade brasileira,
em que tivemos desde deputados federais colocando perucas e fazendo ofensas a
tal comunidade, até novelas em horário nobre apresentando a questão abertamente
para as famosas “Tias do sofá” tão conservadoras. Contudo, esse debate latente e
fervoroso no Brasil já tinha sido apresentado no final do século passado na França,
no filme “Minha vida em cor de Rosa”, indicado ao globo de ouro como melhor
filme estrangeiro e tão atual até o momento presente.
O filme narra a história de Ludovic, um garoto que na
realidade se reconhece como garota, que durante todo filme tenta buscar sua perfeita
sexualidade, seja em uma festa de família, vestindo-se com trajes de sua irmã e
chocando a todos os convidados, fato o qual o pai atribui a característica “Brincalhona”
do filho e a mãe normaliza pela idade, seja levando as bonecas de seu programa
da tv favorito para escola, sendo inclusive descriminado por isso. (E não, não estou confundindo sexualidade com gênero, visto
que sexualidade é a maneira do indivíduo vivenciar suas experiências e sua vida,
sendo, portanto, para Ludovic uma vivência/sexualidade perfeita à aceitação de
seu gênero correto)
A eterna busca pelo autoconhecimento leva para Ludovic um
sentimento de completude e realização, mas as “chagas de ser quem é” atacam a
todos da sua família, por conseguinte a ele mesmo, que se torna tão solitário e
triste, até finalmente conhecer o seu primeiro amor Jerome, parte em que o filme
aborda a sexualidade infantil da maneira como ela é: Natural, inocente e
totalmente encantadora e que pela mãe de Jerome, infelizmente, é vista como
assustadora o suficiente para um desmaio. “Quando eu for menina iremos nos
casar” é a frase que caracteriza uma promessa de um futuro casal que jamais se
cumpriria. A verdade é que o publico leigo jamais aceitaria um amor entre
crianças, assim como dificilmente entenderia que sexualidade não é apenas
penetração, mas é vida e encanto, e que os dois estavam sim vivenciando uma
sexualidade saudável.
O programa de Pan e Bem, atração infantil favorita de
Ludovic, é para ele a chave para seu mundo cor de rosa, esperando eternamente
que sua super-heroína e boneca o resgatasse daquele mundo tão cruel e fizesse
seu casamento com seu grande amor. Sendo essa, a maior e mais bonita representação
dos sonhos de nossa personagem, parte tão importante da vida infantil e que não
se difere em nada de outras crianças com o mundo de outras cores.
A avó rende momentos chaves e libertadores para a história
sendo uma das mais adoráveis personagens que podemos encontrar na obra. O pai
possui uma história secreta para os olhos apurados dos psicólogos e acadêmicos que
podem vir a assistir esse filme, no qual o inconsciente reina e o faz ser cada
vez mais parecido com o patrão, levantando questões sobre “O que é ser homem?” e
que só seriam debatidas novamente no filme Mulan, um filme de 1998 e de um país
totalmente diferente deste narrado. E a mãe com todas as suas mil questões parece
ser uma das principais, fazendo da atuação de Michèle Laroque uma das mais brilhantes
que já assisti em quase toda minha vida de filmes, trazendo a consequência da transformação
da obra para um filme não somente sobre um filho, mas sobre uma mãe e um filho.
Os olhares e expressões, frutos e partes de uma sexualidade, fazem do conteúdo uma eterna interpretação de pensamentos, em que nos interessamos por cada olhar e sensação. Tornando “A minha vida em cor de rosa” um filme maravilhosamente recomendado para assistir em uma tarde de domingo e se tornar uma pessoa melhor já na segunda
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