É engraçado,
não é?
O quanto
algumas coisas eram importantes para nós, eram nossas, e de um dia para o outro
é algo comum...
Como, por
exemplo, a televisão de 32 polegadas, que compramos naquele ano de 2014 para
vermos a copa do mundo... eu lembro do seu rosto, estávamos tão empolgados,
íamos assistir tantas coisas e ela ainda tinha o “Modo futebol” (Um detalhe que
não fazia diferença nenhuma, mas que encarecia o preço por pelo menos 100
reais). Agora ele assiste todas as mais estupidas bobagens, como se fosse o
dono, e mal sabe da história por traz, de quantos controles quebramos “Sem
querer” e quantas vezes ela me serviu de companhia nas madrugadas, quando não
conseguia dormir.
É engraçado,
não é?
Antes
sonhávamos em encher nossa velha estante de fotos: viagens para praia,
aniversários e formatura. E agora ele, tão intrometido, se meteu em nossos
planos e pendurou a foto de sua pequena família ao lado da nossa.
É engraçado,
não é?
Eu
acompanhei você por todas as ruas de nossa cidade, conheci pessoas, ouvi as
mais variadas melodias e vi senti na pele os mais diversos tipos de cerâmica.
Você sempre sonhou que aquilo tudo era provisório. Sonhávamos em dia parar
juntos. Achar nosso local escondido nesse mundo perdido. E agora que você
finalmente chegou na sua praia de areia branca, adivinha só? Não estou com
você. Ele sorri e, sem saber o quanto me dói, chama o que era para ser nosso paraíso
de “Minha casa” e o que sobrou de nosso pequeno sonho pacato foram alguns
domingos e feriados.
Eu queria
tanto saber em qual momento eu não fui mais suficiente para você, em qual
momento eu te abandonei e deixei ele entrar e tomar tudo que é meu... tudo o
que é nosso. Em qual momento eu deixei de seguir as ruas que você habitava? em
qual mudança eu não fui? Em que momento o sofá que eu me deitava passou a ser o
local dele? E em qual armário você escondeu minha rede?
Você me diz
que ele é uma pessoa boa, mas a única coisa que eu vejo nele é um sanguessuga,
um idiota que se meteu em nossa vida e nem sequer pediu licença.
Eu estou
aqui: um péssimo irmão, um péssimo filho e um péssimo namorado.
Eu queria
tanto ter raiva de você por você não me ver mais como seu amigo de aventuras,
mas você é um ser tão amável e eu não vivo sem você...
E eu estou
aqui: um péssimo superador, um péssimo amigo e um péssimo poeta...
Giovo
Sampaio
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